O custo social do contrabando: jovens abandonam a escola para atuar no mercado ilegal

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Uma matéria publicada nesta semana pelo jornal o Globo, destacou uma pesquisa da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), que reforça o fato de que na região sul do Brasil, crianças e jovens abandonam a escola para contrabandear cigarros. A pesquisa também evidenciou que, quando atingem a maioridade, 90% das crianças e jovens que abandonam os estudos acabam permanecendo no mundo do crime.
A percepção de que o contrabando não é uma atividade ilegal, as penas brandas e o dinheiro fácil estão entre as principais motivações para que jovens entre 12 e 17 anos atuem na criminalidade. O pesquisador e economista Pery Shikida, responsável pelo estudo, com base em dados levantados pelo Instituto de Desenvolvimento Econômico e Social de Fronteiras (IDESF), mostrou que cerca de 20 mil pessoas atuavam no contrabando de cigarros em 2021 em Foz do Iguaçu (PR).
Outra cidade analisada é Ponta Porã (MS), que faz fronteira seca com Pedro Juan Caballero (PY). No estado, o cigarro contrabandeado responde por 86% do comércio de tabaco. No Paraná, representa 66% do consumo comercial.

Outro fator que reforça esta problemática é o alto índice de abandono escolar. Enquanto no Brasil a média de evasão no ensino médio foi de 8,60 em 2018, segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), em Ponta Porã foi de 16,20 e em Foz de Iguaçu foi de 9,10.

Luciano Stremel Barros, Presidente do IDESF, comentou sobre a preocupação relacionada às taxas de repetência e evasão de alunos do Ensino Médio. “Justamente nessa faixa-etária é que os jovens ficam mais vulneráveis a entrar na criminalidade”. E complementa: “Nessa prática ilegal, é uma relação de perde-perde, só quem ganha é o contrabandista, pois perde o estado, que não arrecada impostos, a sociedade, que não emprega formalmente a sua mão de obra, perdem os trabalhadores e também as indústrias que estão legalmente estabelecidas, pois o contrabando gera concorrência desleal, o que deturpa o mercado, trazendo uma lógica viciosa de aumento dos preços e de não realidade do mercado”.

O IDESF vem estudando esse tema desde a sua fundação e, em 2015, publicou o estudo intitulado “O custo do contrabando”, que sinaliza o impacto negativo resultante dos altos impostos no Brasil, o que favorece o aumento do contrabando e o consequente financiamento de organizações criminosas e evasão de divisas para o Estado.

Segundo as pesquisas realizadas pelo IDESF, as três cidades onde há maior presença do contrabando de cigarros são Foz do Iguaçu, Guaíra e Ponta Porã. O Paraguai tem cerca de 30 fábricas de cigarro e o Brasil, 11. Eles produzem 65 bilhões de cigarros e internamente consomem 2.5 bilhões, o restante é contrabando que vai para toda a extensão do Brasil. A atividade domina metade do mercado brasileiro. Edson Vismona, presidente do Fórum Nacional Contra a Pirataria e a Ilegalidade (FNCP), comentou: “É inaceitável! Além de termos essa ação do vizinho, temos identificado contrabando vindo da Ásia e Oriente Médio”.

Outro estudo do IDESF, intitulado “Diagnóstico do desenvolvimento das cidades gêmeas do Brasil”, realizado a partir de indicadores oficiais, mostram uma radiografia das áreas fronteiriças brasileiras a partir das cidades gêmeas, ou seja, aquelas que têm do outro lado, nos países vizinhos, um centro urbano com o qual apresenta grande potencial de integração econômica e cultural. O estudo fez uma análise dos quatro eixos de desenvolvimento – educação, saúde, economia e segurança pública – e os dados compilados demonstram uma dura realidade social nessas regiões, as quais sofrem mais diretamente os efeitos do contrabando.

Estudos/matérias para consulta:

O custo do contrabando

Diagnóstico do desenvolvimento das cidades gêmeas do Brasil

Dados sobre as juventudes nas cidades gêmeas do Mercosul

*Com informações do “Globo”.

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