Grandes volumes de apreensões de manganês têm chamado a atenção das forças policiais, principalmente as registradas em um intervalo de apenas 20 dias. A Polícia Rodoviária Federal (PRF) apreendeu, no estado do Pará, respectivamente nos dias 24 de abril e 15 de maio, a quantia de 100 e 800 toneladas de minério (esta última carga avaliada em R$ 1 milhão). Com isso, as apreensões de manganês, pedras preciosas e metais, realizadas somente pela PRF em 2022, já somam 1.362,7 toneladas. Em todo o ano passado, foram registradas 919,73 toneladas.
Segundo o Policial Rodoviário Federal Salim Junes, Chefe do Núcleo de Comunicação Social da PRF/PA, este não é um crime recente, há anos ocorre, mas os indicadores já chamam atenção. “Essa última ocorrência foi atípica, envolveu um número expressivo de cargas, o que elevou os números. Podemos perceber, também, a figura do batedor e de radiocomunicação, assim como nos demais crimes, principalmente no transporte de drogas, para que caso surja uma fiscalização eventual, eles consigam driblar”.
Ainda de acordo com o PRF, os municípios que estão no centro do comércio clandestino de minério são Marabá, Pacajá, Curionópolis e Parauapebas. “Identificamos que o minério estaria a caminho dos portos da região e, segundo informações do Ministério da Economia, a maior parte das apreensões feitas no sudeste do estado seguiria para a Ásia”.
Além da fiscalização nas estradas, na semana passada, em uma operação realizada pela Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal e Agência Nacional de Mineração (ANM), houve a interdição de um garimpo ilegal de manganês. No local, foram apreendidos 2.4t de minério extraído de forma irregular, um britador e duas retroescavadeiras. Outro estado que vem tendo operações frequentes é Roraima, onde os policiais vão até garimpos ilegais (na maioria das vezes localizados em terra indígena Yanomami). As investigações resultantes da operação, deflagrada no dia 19, indicam que o grupo criminoso ligado a uma empresa de táxi aéreo e a outra empresa de poços artesianos possui por volta de 20 helicópteros destinados ao transporte do minério extraído ilegalmente.
Luciano Stremel Barros, Presidente do Instituto de Desenvolvimento Econômico e Social de Fronteiras (IDESF), destacou os crescentes crimes na região Norte do país, em que além da extensão territorial, há vastas áreas de fronteira. “Importante pensarmos constantemente na securitização das fronteiras. Além dos minérios, a cada dia há mais formas ligadas à expansão da criminalidade e, especialmente na região Norte, o país necessita repensar as suas riquezas nessas áreas e desenvolver com visão para a sustentabilidade: com mercado formal e com produtos nacionais sendo empregados de forma correta, para que essa riqueza possa ficar no país”.
Segundo informações do portal “UOL Economia”, a mineradora Vale é a dona de direitos minerários em oito grandes áreas de Marabá, e tenta vender esses títulos a outras empresas. O “Estadão” também apurou que a Vale nunca fez extração do manganês em suas áreas, mas viu suas áreas serem invadidas nos últimos anos pela extração ilegal. “Nenhuma solução concreta, porém, foi dada até hoje a essas invasões. Hoje, a empresa tenta escapar do passivo ambiental que passou a acumular nas áreas que possui direito de mineração. Na oferta que fez a interessados no negócio, a mineradora declarou que não iria levá-los para visitas técnicas na região, por medo dos invasores. No Brasil, estão localizadas 10% das reservas mundiais de manganês. Com esse volume, o Brasil é hoje o quarto maior mercado mundial do insumo, atrás apenas de Ucrânia, África do Sul e Austrália.
No vídeo abaixo, feito pela PRF/Pará, as cargas apreendidas, com 800 toneladas de manganês.
Texto: Eloiza Dal Pozzo