21% da população venezuelana já deixou o país. Veja a estrutura organizada pelo Brasil para receber os migrantes e refugiados
Segundo dados da Plataforma de Coordenação Interagências para Refugiados e Migrantes da Venezuela, já saíram do país mais de 6 milhões de pessoas – e perto de 5 milhões tiveram como destino países da América Latina e Caribe.
Com a chegada contínua de migrantes e refugiados, principalmente por meio da fronteira Norte do país, no estado de Roraima, o Brasil criou a Operação Acolhida, ação interministerial que também conta com entidades supranacionais, como a Agência da ONU para Refugiados (Acnur), a Organização Internacional para as Migrações (OIM) e outras 46 organizações da sociedade civil e não governamentais. O Exército brasileiro é o responsável pela força tarefa logística e humanitária e trabalha com a recepção dos migrantes e ordenamento da fronteira, os cuidados relacionados à assistência humanitária e a interiorização dessas pessoas.
A convite da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME), Luciano Stremel Barros, Presidente do Instituto de Desenvolvimento Econômico e Social de Fronteiras (IDESF), visitou pessoalmente a Operação Acolhida e destacou a importância da operação interagências e a eficácia na recepção dos migrantes e refugiados. “O modelo brasileiro de acolhimento e interiorização já foi amplamente elogiado pelos organismos internacionais pela dignidade humana com que atua e pela articulação que realiza, seja pelo destino laboral ou pela residência dessas pessoas”.
Para explicar de forma didática como funcionam os 3 eixos da Operação Acolhida, a equipe do IDESF entrevistou o Professor da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME), Tássio Franchi. Neste primeiro vídeo, ele explica de forma sucinta como os venezuelanos chegam ao Brasil e de que forma ocorre o ordenamento da fronteira.
Quando o migrante necessita entrar no segundo pilar da Operação Acolhida, que é o abrigamento, ele será direcionado a uma das estruturas, que contam com serviços básicos como água, energia, internet, segurança e alimentação, dentre outros. “São quase 6 mil vagas nos abrigos e há alguns cuidados para a gestão interna das estruturas, por exemplo, são separados por famílias, público LGBT, indígenas, mulheres solteiras e homens solteiros para melhor atender as necessidades desses públicos. Uma família que chega com uma criança pequena necessita de cuidados diferenciados. Outro exemplo é o caso dos indígenas, que contam com redários para descanso e o alimento é fornecido para que eles mesmos façam o preparo. São formas de atenção que buscam minimizar o sofrimento dessas pessoas que já estão fora de seu país”, explicou Tássio. Além disso, segundo o professor, o Brasil tem uma legislação moderna para tratar destas questões e os migrantes e refugiados têm liberdade de sair do abrigo a qualquer momento.
No segundo vídeo, com duração de 6 minutos, Tássio explica sobre o tempo em que o migrante fica nos abrigos, a estrutura e divisão de responsabilidades.
Dados do mês de fevereiro deste ano demonstram que mais de 68 mil venezuelanos foram interiorizados e, segundo a Casa Civil, os estados da região Sul foram os que mais receberam migrantes: 11.218 no Paraná, 10.540 em Santa Catarina e 9.506 no Rio Grande do Sul. A interiorização, que é o terceiro pilar da Operação Acolhida, é a estratégia que articula a realocação voluntária dessas pessoas para outros municípios, com o objetivo de inclusão socioeconômica e integração local. Tássio detalha a logística de como a interiorização ocorre. “Pode ocorrer a saída dos abrigos em Roraima para locais de acolhida e integração na cidade de destino, reunião familiar (quando o migrante já tem um parente interiorizado), reunião social (um amigo ou parente distante se compromete a receber o migrante) e vaga de emprego sinalizada (o Exército e as organizações que atuam em conjunto fazem toda a logística de levar o migrante até a cidade onde se localiza a vaga sinalizada)”.
Sobre os avanços e desafios relacionados à migração internacional, Tássio comenta que este é, na atualidade, um dos maiores desafios da humanidade. “A migração é uma grande oportunidade para um país. Acolhemos muitos jovens com as suas famílias que já chegam com formação e vão tentar se reinserir. No Brasil, temos políticas migratórias pró-ativas, voltadas para a captação de talentos, em áreas sensíveis, das quais o Estado necessita. Precisamos criar facilidades para que consigamos absorver melhor esses migrantes”.
Sobre o tema, Tássio e Luciano citam também o histórico do Brasil, que é, em sua essência, composto por migrantes. Luciano finaliza: “Nos movimentos casuais das nossas fronteiras já observamos que a cooperação favorece a integração entre os povos e a Operação Acolhida vem reforçar ainda mais tais características das regiões fronteiriças”.
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Texto: Eloiza Dal Pozzo
Artes e vídeos: Frank Cedeño