IDESF entrevista: Fausto Fava de Almeida Camargo – Possibilidades de integração da Ed. Superior

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Na tese de doutorado intitulada “Possibilidades para a integração da educação superior: conexões, nós e redes na territorialidade da tríplice fronteira Argentina, Brasil e Paraguai”, o professor e pesquisador Fausto Fava de Almeida Camargo* reúne informações acerca dos sistemas educacionais de tal região e busca responder a seguinte indagação: “É possível integrar as Universidades Públicas, no âmbito dos cursos de graduação, na territorialidade da tríplice fronteira?”
Para entender quais foram os resultados da pesquisa e de que forma a educação superior em regiões de fronteira, em especial na territorialidade analisada – UNIOESTE (Brasil), UNAM (Argentina) e UNE (Paraguai) – pode gerar oportunidades de integração regional e tal espaço e habitantes serem beneficiados com ações de planejamento, estratégia e visões conjuntas, entrevistamos o autor da tese, em um estilo de publicação “perguntas e respostas”. Assim, pretende-se contribuir com os debates acerca de regiões fronteiriças cada vez mais desenvolvidas.

1 – Qual o espaço que a educação superior ocupa no desenvolvimento das regiões de fronteira?
Fausto – O Ensino Superior desempenha papel fundamental no desenvolvimento socioeconômico em uma região de fronteira. Números são os exemplos advindos do dia a dia da fronteira, caracterizando-a como espaço singular, construído a partir de múltiplas relações de trânsito, fluxos, pertencimentos, identidades e arranjos sejam estes comerciais, de capital, da educação, de criminalidade, etc.
Quando olhamos para a região da tríplice fronteira, vemos, por exemplo, uma intensificação do fluxo migratório, de trabalhadores, de estudantes e do capital; na criminalidade que atravessa a fronteira; nos negócios fronteiriços (taxistas e mototaxistas; empresas de transporte urbano entre os países e de transporte logístico); em operações conjuntas das polícias; no dialeto local e regional (hibridismo), bem como nos noticiários (TV e jornais); nas mídias e propagandas (outdoors bilíngues ou no dialeto do país vizinho); nos investimentos internacionais na fronteira (vizinhos investindo no outro país); nos estudos, quando um estudante paraguaio ou argentino busca formação superior no Brasil ou na Argentina (e vice-versa). Esse ir e vir evidencia como a Educação Superior, por exemplo, pode influenciar a dinâmica dos residentes, trabalhadores e estudantes numa região de fronteira.

2 – Em um dos capítulos da tese, o Sr analisa as redes presentes nas relações internacionais das Universidades Públicas UNIOESTE (Brasil), UNAM (Argentina) e UNE (Paraguai) na territorialidade da tríplice fronteira (BR-PY-AR). Quais são as interações existentes na atualidade?

Fausto – As interações existentes, até o momento da Tese (ano base: 2019-2020), referem-se a tentativas de integração educacional, fomentadas, principalmente, pela mobilidade acadêmica, pelos países: Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai.
No entanto, percebe-se, que nenhuma dessas iniciativas buscou criar uma rede internacional de integração entre as universidades na territorialidade da tríplice fronteira. Por exemplo, a Universidade Federal da Integração Latino-americana (UNILA), em Foz do Iguaçu/PR, possibilita a promoção da integração regional, porém, por meio da mobilidade estudantil e da oferta de educação a estrangeiros.
Programas de mobilidade acadêmica (discente e docente) internacional se mostram como políticas de internacionalização muito presentes nas IES. Estas, se voltam para a promoção da consolidação, expansão e internacionalização da ciência e da inovação técnico-científica. Nessa direção, muitos incentivos foram proporcionados por meio de convênios acadêmicos e de bolsas de estudos. Esses programas contemplam vivências acadêmicas teóricas e práticas, geralmente, compreendidas, no caso da graduação, em períodos de 6 meses a 1 ano. Tais programas, muitas vezes, não se aplicam a pedidos de transferência de alunos e dupla titulação, mas a vínculo temporário com a IES receptora. Uma Rede Internacional que possibilite a integração da Educação Superior, mesmo que em um ou dois cursos, poderia, por exemplo, levar a internacionalização dos Cursos, integração e múltipla titulação, transferência de estudantes entre países e outros programas. Ainda há muito espaço. Como professor na Educação Superior, cheguei a receber estudantes dos nossos países vizinhos (Argentina e Paraguai) que gostariam de cursar no Brasil, mas que desistiram pela dificuldade de validação do diploma depois. A rede poderia contribuir neste aspecto também.

3 – O que dificulta essas interações?

Fausto – No âmbito da pesquisa foi possível evidenciar alguns riscos ou elementos dificultadores apresentados numa possível constituição de rede internacional de integração universitária, no âmbito dos cursos de graduação, como a falta de recursos financeiros e humanos (como as dificuldades nos fomentos para concessão de bolsas e destinação de editais para internacionalização), as barreiras culturais e linguísticas, a resistência na adequação de normas e procedimentos e a coordenação de esforços para a implantação da rede.

4 – Quais seriam as alternativas para fortalecer essas relações?
Fausto – Para a implantação de uma rede interuniversitária, no âmbito dos cursos da graduação, sugere-se, por exemplo, a adoção de modelo de gestão (ou de coordenação desses esforços) conduzido sob a liderança de uma das três universidades (uma de cada país), como ocorre, por exemplo, nos modelos de gestão de redes empresariais. Neste caso, uma das IES pode conduzir o processo de estruturação da rede. Ao reunir as informações, sugere-se possível caminho para estruturação de rede internacional de integração entre as universidades públicas, no âmbito dos cursos de graduação, na territorialidade tríplice fronteira.
Desafios surgem a partir da possibilidade da integração universitária por meio das redes, uma vez que a implementação desta, influencia as relações, as conexões e os atores das IES, que por sua vez, são também influenciados por suas heranças culturais, políticas e sociais. Daí a importância do alinhamento estratégico e institucional entre universidades e o envolvimento de diversas instâncias (acadêmicas e administrativas) em seus diversos níveis (do estratégico ao operacional). Tal possibilidade aponta para muitos benefícios, em direção ao desenvolvimento da territorialidade da tríplice fronteira, no âmbito da educação superior e dos cursos de graduação, por meio da rede. Em outros termos, à integração dos povos que vivem na fronteira (e pela fronteira).

5 – Como os acordos de cooperação internacionais podem favorecer a constituição de rede na territorialidade da tríplice fronteira?
Fausto – As IES, por meio de parcerias, formalizadas, por exemplo, através de redes internacionais, podem estreitar os laços por meio de acordos institucionais bilaterais ou multilaterais, representados por carta ou protocolo de intenções, acordo de cooperação ou convênio. Essas parcerias, independente do objetivo ou da atividade de internacionalização (mobilidade acadêmica, duplo ou múltiplo diploma ou pesquisa conjunta), são compreendidas como sinônimos de estratégias ou políticas de internacionalização adotadas pelas IES. Assim, acordos de cooperação internacionais são fundamentais para a constituição de uma rede internacional entre IES na territorialidade da tríplice fronteira.

6 – Na tese, o Sr sugere a estruturação de rede internacional de integração entre as universidades públicas, no âmbito dos cursos de graduação, na territorialidade tríplice fronteira. De que forma poderia acontecer essa integração?
Fausto – Podem ser adotados vários caminhos. Um possível caminho é apontado na Tese, iniciando pelo estudo de viabilidade, com a definição das IES parceiras ou a serem associadas e com a elaboração do plano de trabalho. Em seguida, sugere-se a estruturação da rede através de minuta do acordo de cooperação internacional e as respectivas atribuições, papéis, objetivos da rede e os itens a serem observados e contemplados pela Rede.
Neste sentido, para a atuação conjunta, em uma rede internacional, as IES no âmbito dos cursos de graduação, por exemplo, podem considerar se: será feito estudo da equivalência dos currículos? Será possível aproveitar créditos decorrentes da equivalência curricular? Serão aceitos alunos de transferência? Quais critérios serão adotados para a transferência? Terá mobilidades? Será possível estagiar na IES parceira ou no mercado de trabalho da outra IES (Regulamento de estágio)? Será possível realizar eventos (Congressos, Seminários, Simpósios) em conjunto, na tríplice fronteira? E, ainda, é possível estruturar programa de titulação dupla ou múltipla na região de fronteira? Por último, sugere-se a definição de prazos, por exemplo, para a conclusão do programa (determinação de prazo mínimo e máximo para a emissão de históricos, ementas das disciplinas cursadas, para aproveitamento de créditos ou disciplinas na IES de origem (no retorno do intercâmbio) ou, ainda, para emissão do duplo ou múltiplo diploma (quando da conclusão); prazo para a conclusão da graduação (o aluno intercambista poderá acrescentar experiências não previstas em seu currículo, sendo necessário prever prazo diferenciado para este, a fim de não acarretar prejuízos aos estudantes?); emissão de diploma (uma possibilidade é de considerar que a emissão dos diplomas seja realizada simultaneamente. Esses prazos para a emissão dos diplomas deverão ser negociados entre as IES; e, por último, destaca-se a necessidade de se pensar na propriedade intelectual, ou seja, caso venham a desenvolver propriedade intelectual, se esta será compartilhada? Como fica a comercialização e exploração desta propriedade intelectual? Esses itens ou tópicos são importantes ao se pensar na estruturação de uma rede.

7 – Quais são os benefícios que podem ser originados a partir da integração?
Fausto – Uma rede internacional de integração universitária, no âmbito dos cursos superiores de graduação, pode proporcionar inúmeros benefícios, entre eles, podemos citar:
a) Mobilidade acadêmica (docentes, discentes e administrativo);
b) Intercâmbio de experiências entre docentes, discentes e administrativo, gerando soluções coletivas, aprendizagens coletivas e inovações colaborativas, além da troca de experiências e práticas pedagógicas;
c) Aproximação de currículos;
d) Reconhecimento mútuo de créditos;
e) Titulação dupla ou múltipla que contemple as IES associadas ou conveniadas;
f) Abordagem multicultural;
g) Convivência em outros ambientes acadêmicos (das IES membros da rede);
h) Criação de ambiente cosmopolita;
i) Valorização mútua das universidades envolvidas ou conveniadas;
j) Formação de rede profissional multinacional;
k) Formação de egressos com múltiplas visões, multiculturalidade;
l) Aumento da empregabilidade;
m) Atendimento ao ir e vir, do residente da região da tríplice fronteira;
n) Desenvolvimento de pesquisas em conjunto, propiciando inovações e soluções para a tríplice fronteira.

*Minicurrículo: Administrador. Doutor em Sociedade, Cultura e Fronteiras pela UNIOESTE-PR e Mestre em Ciências Sociais pela UNISINOS-RS. Professor no Ensino Superior há mais de 15 anos. Possui experiência na implantação de Metodologias Ativas de Aprendizagem, Ensino Híbrido, Aprendizagem baseada em Projetos e em formação docente. Palestrante, consultor e facilitador em Workshops e Treinamentos. Autor dos livros: “A Sala de Aula Inovadora: estratégias pedagógicas para fomentar o aprendizado ativo” e “A Sala de Aula Digital: Estratégias Pedagógicas para Fomentar o Aprendizado Ativo on-Line e Híbrido”, publicados pela Ed. Penso.

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