O desenvolvimento das regiões de fronteira é fundamental para a diminuição das desigualdades sociais e também para promover o dinamismo econômico fora dos grandes centros. No Brasil, nos mais de 15 mil quilômetros de extensão da faixa de fronteira, são 588 municípios com diferentes perfis sociais, econômicos e geográficos. As potencialidades destes locais são aspectos amplamente debatidos no contexto acadêmico e institucional.
Uma reflexão relacionada a este tema é a reorganização econômica das cidades de fronteira causada pela instalação de cooperativas e seus complexos agroindustriais.
Na região Oeste do Paraná, por exemplo, em ranking divulgado pela Forbes em março deste ano, 4 cooperativas que ficam na faixa de fronteira do estado estão entre as 50 maiores empresas do agronegócio brasileiro: a Lar Cooperativa Agroindustrial, Frimesa, C.Vale e Copacol.
Paulo Ilha, Professor e Pesquisador da área de desenvolvimento regional e agronegócio, estuda o tema cooperativismo há mais de 15 anos. “O cooperativismo se apresenta como uma ferramenta ímpar para contribuir com a solução dos problemas desses territórios, onde a iniciativa privada e as intervenções públicas nem sempre são capazes de corrigir problemas econômicos e sociais. Isso foi muito significativo porque a colonização do Oeste do Paraná acontece juntamente com o cooperativismo”.
Especificamente sobre as regiões de fronteira, no caso da Lar, há associados e unidades da cooperativa em cidades do Paraná, Mato Grosso do Sul e Santa Catarina, além de 5 estados do Paraguai: Alto Paraná, Caaguazu, Caazapá, Canandiyu e Itapua. Irineo da Costa Rodrigues, Diretor-presidente da Lar, comenta que somente na cadeia pecuária, a cooperativa emprega mais de 15 mil funcionários, o que faz com que também haja um incremento no comércio dos municípios, atividade imobiliária e construção civil, transportes de passageiros e fornecedores, produtos e serviços. “Em seus 57 anos, a Lar contribuiu para o desenvolvimento endógeno, ou seja, que acontece de dentro para fora, com a potencialização das cadeias produtivas nas quais a cooperativa atua. Neste sentido, podemos citar a cadeia produtiva de grãos, que tem contribuído com a geração de empregos e renda no campo, mas também no comércio das cidades, nas empresas prestadoras de serviço de manutenção de máquinas e equipamentos agrícolas e também industriais, caminhões, tratores, dentre outras”.
Um exemplo da forma como ocorre o desenvolvimento endógeno, em 2020 a Lar inaugurou
um complexo industrial em Caarapó, cidade do Mato Grosso do Sul, que tem 30 mil habitantes. O local tem capacidade para recepção e armazenagem de 72 mil toneladas e processamento de 450 mil toneladas de soja/ano, produção anual de 90 mil toneladas de óleo e outras 360 mil toneladas de farelo, além de 120 mil toneladas de biodiesel. A indústria esmagadora de soja é uma das mais modernas do país e gera 300 empregos.
Com faturamento de R$10,78 bilhões em 2020, Irineo destacou ainda que a Lar tem um planejamento estratégico com previsão de crescimento médio de 10% ao ano, até 2030 e de que somente em 2021, o crescimento deverá ser em torno de 50%. Entretanto, ele pontua desafios para estas regiões de fronteira: “Nossos desafios estão na oferta de mão de obra qualificada para suportar esse crescimento, além de insumos fundamentais, como água e energia elétrica na quantidade e na qualidade necessária para nossas indústrias e produtores integrados, estradas adequadas para o escoamento da nossa produção e um especial apoio aos produtores quando da necessidade de terraplenagem para as ampliações dos aviários e pocilgas. Portanto, as cidades precisam se preparar para isso, antecipando-se e já buscando alocar recursos para esses investimentos que são estruturantes, e que trarão retornos a longo prazo para os seus municípios”.
Luciano Stremel Barros, Presidente do Instituto de Desenvolvimento Econômico e Social de Fronteiras (IDESF), comenta que os pilares do desenvolvimento nas áreas de fronteira são educação, saúde, emprego, renda e segurança. “As regiões de fronteira do Brasil são cheias de potencialidades e precisam de projetos que possam alavancar o desenvolvimento regional. Exemplos abordados aqui como o da Cooperativa Lar, que abrange um número grande de municípios que estão nessas áreas de fronteira, fomentam o emprego formal e a renda das famílias que vivem nestas áreas, para que haja uma maior especialização do emprego dos produtos agrícolas, da mecanização, da condição tecnológica que hoje a agricultura e pecuária exigem”.
Segundo dados do Sindicato e Organização das Cooperativas do Estado do Paraná (OCEPAR), nas cooperativas agropecuárias paranaenses, 70% dos cooperados são pequenos agricultores com área de até 50 hectares.
Neste sentido, Luciano complementa que tais formatos cooperativos podem ser replicados em outros territórios, com outras atividades: “O sistema cooperativo é altamente inclusivo, pois ele consegue contemplar as pessoas que vivem nestas áreas, os saberes e os arranjos produtivos locais. Isso é um incentivo para que os jovens, filhos dos agricultores, também possam permanecer nestas áreas, trazendo desenvolvimento sustentável, conhecimento e técnicas cada vez mais avançadas para a agropecuária”.
Texto: Eloiza Dal Pozzo