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Henley Passport Index, associado à IATA, é uma entidade que orienta sobre vistos de viagem e avalia periodicamente os passaportes mais poderosos e os menos simpáticos aos olhos dos oficiais das imigrações.
No último ranking do Henley, em março de 2020, o passaporte mais confiável, menos falsificado e mais bem-vindo continua sendo o japonês. Imbatível há anos, está dispensado de visto em 191 países. No segundo posto aparece o de Singapura, aceito sem vistos em 190 fronteiras.
Logo abaixo, com 189 portas abertas, os da Alemanha e Coreia do Sul. Finlândia e Itália surgem com 188. E a lista prossegue em ordem decrescente com Luxemburgo, Espanha, Dinamarca, Suécia e outros. O Brasil até que não vai mal. Em 19º lugar, nosso documento é aceito sem delongas em 170 países, na mesma categoria dos documentos de viajantes oriundos da Argentina, Croácia e Hong-Kong.
Claro: não basta um passaporte poderoso para você cruzar fronteiras tranquilamente. É norma mundial que fiscais da imigração tenham poder de arbitrar e não precisem dar muitas satisfações do que decidem ali no guichê.
Por imigração entenda-se o vidro que separa você de um sujeito geralmente mal-humorado que olha para sua cara, para sua foto, novamente para você e para sua foto, pergunta qualquer coisa, mete um carimbo e chama o próximo da fila – para seu alívio. Alguns, dependendo do país, do dia e do horário, são até ligeiramente cordiais.
E os piores passaportes do ranking de visas? São aqueles de nações em guerra, com histórico de terrorismo ou vivendo conflitos que se arrastam sem solução. Passaportes do Sudão e da Coreia do Norte ganham carimbos livres em apenas 39 destinos. Nepal e Território Palestino, 38. Nos últimos postos aparecem Líbia, Iêmen, Somália, Paquistão, Síria, Iraque e Afeganistão – este, na lanterna, é aceito em pouco mais de 20 nações.
Com a pandemia, tudo pode mudar, alerta o Henley Passport Index. Especialistas preveem que as regras para entrada de turistas deverão incluir algum tipo de certificado de vacina – quando e se esta surgir – medições de temperatura e checagem de sintomas antes mesmo dos embarques, como já deve acontecer nas próximas viagens pós-pandemia.
A Nova Zelândia está entre os países menos afetados pela Covid-19. Pudera: há décadas a nação detém know-how invejável em controle sanitário. Por se tratar de uma ilha e pelo fato de sua economia ser fundamentalmente agrícola, a Nova Zelândia sempre foi rigorosíssima na fiscalização de tudo que vem de fora – pessoas, animais, vegetais ou cargas secas – à procura de agentes contaminantes.
Lembro-me de desembarcar em Auckland, há alguns anos. Minutos antes do pouso, as comissárias alertaram para sobras do serviço de bordo que iam recolhendo no saco preto passante. Até aí, normal. Porém, minutos depois, repetiram o aviso para distraídos e sonolentos e mais três vezes percorreram as fileiras, de olho.
Desde o finger até a retirada de bagagens contei quatro barreiras de fiscalização; portais espalhafatosos para o turista verificar – de novo! – possíveis restos de comida na mochila. Há lixeiras e avisos para todo lado, do tipo: “Caro turista, reveja sua bagagem de mão, descarte aqui produtos tais como…” e segue uma lista. No final da caminhada, um alerta definitivo: se forem encontradas sobras, o caro turista pode até ser mandado de volta. Quem vai brincar com isso?
Tal modelo de rigor deve se espalhar daqui em diante; vamos nos preparando. Que chato: uma simples viagem de férias acaba de ficar ainda mais complicada, estressante e cheia de papelada para levar na mala.